Livros #131 - Se alguma vez...

Título: Se alguma vez...
Editora: Galera Record
Autor: Meg Rosoff
Nº de páginas: 256
Sinopse: Um encontro com a morte transforma a vida de David Case. Convencido de que o destino não lhe reserva nada de bom, David decide se reinventar e tornar-se, assim, irreconhecível para o destino e salvar-se de seu sofrimento certo. Ele passa a ser Justin Case, com uma aparência totalmente nova e uma paixão crescente pela sedutora Agnes Bee. Com seu galgo cinzento imaginário a reboque, Justin luta para manter sua nova imagem e, acima de tudo, sobreviver em um mundo onde as reviravoltas do destino o aguardam em cada esquina.






O segundo romance de Meg Rosoff, Se alguma vez..., apresenta a história  de David Case em uma jornada que é tão filosófica quanto louca. E enquanto o personagem passa a tentar sobreviver e ao mesmo tempo conhecer a si próprio e se acostumar com seus novos sentimentos, dúvidas e a sua recém descoberta sexual o leitor é apresentado a vários outros personagens que são no mínimo diferentes dos convencionais, assim como o romance. Para ser mais preciso, toda a narrativa possui um toma diferenciado e único que se mantém até o final da história.

David, aos 15 anos, entra em um verdadeiro desespero psicológico após seu irmão de apenas um ano quase pular da janela de seu quarto. A partir deste momento ele começa a pensar em todos o "e se..." que estão na borda de acontecer. Em todos os desastres que estão esperando apenas pelo momento certo para arruinar toda a sua vida. Com medo do destino e de tudo o que está reservado para ele David decide que ele tem que fugir de alguma forma e e neste momento que Justin nasce.

Assim que David tornou-se Justin toda uma nova pessoa teria que nascer e assim ocorreu. Ao tentar mudar sua aparência ele conhece Agnes uma garota extravagante em todos os sentidos, que adora moda e vê neste adolescente mais novo que ela uma interessante oportunidade para ser seu modelo experimental (algo bem egoísta, o que já diz muito sobre ela). Esta nova pessoa, entretanto, não foi facilmente aceita pelos outros e aí começou a sua nova realidade, na qual havia não só as novas relações como também as novas coisas que, com raras exceções, apenas ele pode ver e entender, como seu cachorro, um galgo cinza chamado Garoto, ou aquelas que só aumentam sua paranoia.

"Já era ruim o bastante que David Case tivesse chegado à escola vestido de manira tão peculiar. Mas além disso ter mudado de nome? As tensões do primeiro dia se dissolveram em risadinhas tímidas que se espalharam no sentido horário pela sala, adquirindo velocidade até os colegas de Justin estarem engasgando e então chorando de rir, as lágrimas rolando por seus rostos."

O irmão de Justin, Charlie, é uma garoto tão interessante quanto já que com apenas um ano mostra uma inteligência e perspicácia singulares assim como um carinho e preocupação por seu irmão que são realmente infantis. Há ainda  Peter, o único que além de entender aprecia cada pensamento e sentimento do protagonista e torna-se verdadeiramente seu amigo e Dorothea, a irmã de 11 anos de Peter que também demonstra uma personalidade única e que parece compreender Justin melhor do que ninguém. Já os adultos da história são completamente alienado e despidos de qualquer interesse real pelas questões que estão em debate.

Meg Rosoff consegue de forma peculiar e muito inteligente criar uma atmosfera única para os seus personagens. Um mundo tão deles no qual aquilo que se conhece por realidade se mistura tão harmoniosamente com o anormal, com a loucura. Um cachorro imaginário, a constante presença do destino e de seres que deveriam ser inanimados mas que reagem e influenciam muito com os acontecimentos da narrativa só fazem com que esta linha entre o real e o imaginário se torne ainda mais turva e mais fascinante de ser cruzada.

"O fato de a realidade dele [Justin] abrigar um cachorro invisível e a presença ocasional da voz da ruína parecia menos importante do que sua capacidade de dormir à noite, levantar de manhã e interagir significativamente com outros seres humanos durante o dia."

A narrativa em si também é algo muito interessante de ser observado na obra. A narração ocorre com a constante presença do "destino" e até mesmo com o seu discurso direto se intercalando entre os capítulos. A narração principal em terceira pessoa também trazia uma peculiaridade: o narrador parecia se dirigir diretamente ao leitor, como em uma conversa. Esta escolha da autora fez com que todo o livro assumisse um aspecto intimista e com que o leitor pudesse se identificar e se ver em cada momento, pensamento ou dúvida durante a história.

Se alguma vez... presenteia o leitor com uma história ao mesmo tempo leve e profunda, divertida e depressiva, que consegue fazer com que a jornada de um adolescente confuso se transforme em uma  verdadeira reflexão sobre os fatos da vida, sobre o que é ou não viver e o que está realmente em nosso poder ou não. Uma história sobre o destino, a sorte e a vida contada de uma forma fascinante e que prende o leitor a cada palavra. Vale muito a pena conferir.

"Pobre e impotente David, segurando-se com força à sua vidinha atrofiada. Podia ser quase divertido. Quase. Você. Chegue mais perto. Deixe-me sussurrar em seu ouvido, O seu amigo, o seu personagem, o seu David é um tolo. Um idiota. Um ratinho branco com um focinho trêmulo cor-de-rosa. Estou com a minha pata em seu  rabo."

Um comentário:

  1. Oi Gabby,
    estou bem curiosa mesmo para ler este livro. ainda não tinha lido nenhuma resenha dele, mas seus comentários me deixaram bem curiosa.
    não sei, mas acho que não fui muito com a cara da Agnes... hehe ;$

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